08 novembro 2015

Merzbow - (2002) Merzbeat

 7/10

A soundtrack perfeita pra festa mais doentia de todos os tempos.


Este é um álbum muito odiado. É o que entendi ao ler diversas análises e reviews dele, tanto no RYM quanto pela Internet à fora. E eu não entendo o porquê. Não, deixe-me escrever isso de maneira mais adequada: eu entendo perfeitamente o porquê mas ainda sim me vejo em discordância eterna.

Merzbeat é o álbum mais acessível do cabeludo maluco. Não entenda isso como "opa, finalmente um Merzbow que posso mostrar pros meus amigos!", pois a maioria deles ainda vai se afastar de fininho após sua confissão.

Merzbeat é o álbum mais cheio de ritmos, batidas, elementos musicais de Merzbow. Mostre isso pra um fã hardcore de harsh noise ou HNW que sente atração sexual por ter seu aparelho auditivo lentamente destruído e ele vai cuspir na sua cara. "Ritmo? NA MINHA MÚSICA? HAHAHAHAHA!"

E aí mora o problema, amigo. Muito barulhento e cheio de dissonância para os gostos mais comuns; muito musical e harmonioso para um noiseboy (prometo nunca mais usar esse termo). Talvez só  Door Open At 8 Am, de 1999, chegue perto da musicalidade de Merzbeat. 

Muito provavelmente não tenho muita autoridade para afirmar isso ainda, visto que só ouvi uns dez álbuns de Merzbow até agora, mas este é um dos seus melhores trabalhos até então.

As batidas sempre se baseam em loops simples e genéricos que se repetem muito ao longo da música. Ao invés de deixar a experiência repetitiva, estas batidas grudam no fundo da mente e tornam mais fascinantes as modificações adicionadas a elas ao longo do tempo.

O noise aqui na maioria das vezes é gerado pela própria distorção na batida. Quase todas as tracks se baseiam em dois ritmos simples sendo abusados de maneiras diferentes ao longo do tempo (em turnos no começo, depois mais simultaneamente). A execução se torna muito formulaica, sim, um ponto fraco do álbum, mas ainda sim há muito espaço para diversidade. Algumas vezes a distorção é tanta que que ritmo muda inteiramente e complementa a segunda batida de maneira inédita.

Um ponto altíssimo em Merzbeat também é a mixagem. Diferente de monstruosidades como Pulse Demon, aqui o volume geral das músicas não é inexoravelmente ensurdecedor. Ainda é bem elevado, mas não chega aos pés dos experimentos mais abrasivos do japonês. Sei que alguns diriam que isso é um ponto fraco, que o volume ridículo é necessário para a experiência completa, mas discordo até a morte. Se você quer que todos a sua volta achem que seu headphone estragou, aumente o volume você. Talvez meu ódio à chamada "Guerra do Volume" pese nisso também, mas... 

Também parabenizo o trabalho por não ser extremamente uniforme no quesito caos e volume ao ponto de ser cansativo, como a maioria dos álbuns de Merzbow são. Aqui existem diversos segmentos mais tranquilos no meio das montanhas e vales de noise. Uma muito bem vinda variedade, que também acaba ajudando a amplificar indiretamente os períodos mais barulhentos.

Os quesitos bons de outras aventuras de Merzbow também se encontram aqui. Muitos sons bizarros e de outro mundo permeiam as músicas e te fazem indagar "Isso são sinos? Seria uma frigideira sendo raspada num microfone? Como diabos esse som foi produzido?"

No fim, Merzbeat é uma experiência e tanto. Com certeza um álbum que garante múltiplas visitas. Os únicos pontos fracos que encontrei são a obsessão com sons de frequência muito alta (uma questão puramente de gosto. Talvez o motivo pelo qual não aprecio muito Merzbow em geral), alguns segmentos que se repetiram tanto, sem progressão alguma e se tornaram chatos... e finalmente (como não tocar nesse ponto) a maneira mais idiota e anti-prática de se incluir uma faixa bônus: após a track 5, existem 58 tracks de quatro segundos e uma track de seis segundos, todas incluindo nada além de silêncio, para só então encontrarmos a track bônus. Eu poderia listar dezenas de motivos pelos quais isso é horrendo, mas não quero perder tempo. Na verdade é algo quase insignificante, mas afeta meu TOC de maneiras inimagináveis, então tive que incluir aqui.

Espero que Merzbow experimente mais no futuro com ritmos e melodias encharcadas de noise, ou vice-versa.

Capa do album: 6/10


Que merda é essa, afinal? Parece uma foca marrom dando a língua. Li em algum lugar que tinha um samurai aí. No fundo, arquitetura japonesa com um filtro rosa desagradável. Um ponto extra pelo certo humor que emana da arte.

Análise das tracks:


1. Promotion Man 7/10

Começamos com uma guitarra e bateria num loop simples e memorável que logo é perfurado por tiros de alta frequência. A bateria se mantém imutável por um tempo e a guitarra é destruída com efeitos. Depois de um tempo a fórmula se inverte. As distorções são tantas que uma hora você se esquece do que existia ali antes. Aos 5:43 um clímax e após isso, uma pausinha, deixando a batida em paz por um tempo. Mais brincadeiras com efeitos até o final abrupto. Uma fórmula simples que será seguida quase no álbum inteiro, mas com muitas texturas fascinantes no meio. 

2. Forgotten Land 8/10

O que parece ser um ukulele, e depois uma batida simples de bateria. As distorções mais interessantes do álbum ocorrem na bateria dessa musica. Há algo viciante na maneira que os graves se tornam agudos com o estouro do volume e outras modificações. Muitos segmentos relativamente tranquilos aqui também. Ótimo. Só é uma track meio longa.

3. Shadow Barbarian (Long Mix) 8/10

A track que mais brinca com baixa frequência até agora. Graves lindos e uma batida cheia de chuvisco. Um ritmo meio chato é introduzido em algumas partes, algo parecendo um som tosco de um brinquedo estragado. Depois ele é distorcido e fica mais interessante. Paradoxalmente, no final, temos explosões nucleares de sons brilhosos de alta frequência. 

4. Tadpole 6/10

Track mais curta e menos barulhenta em geral, meio ambiente. Nada que prenda muito a atenção, mas é uma ótima pausa.

5. Looping Jane (Beat Mix) 5/10

Usa a mesma percussão da track 2. Forgotten Land, o que me deixa desapontado. Esse álbum não precisava de mais repetição. As distorções da bateria aqui são muito mais poderosas e dissonantes, mas a guitarra... Parece só um white noise  entediante. Ela muda as vezes, mas não se salva muito.

6-64 [silence] 0/10

4 segundos de silêncio em cada track idêntica. Wow. Eu sei que é pra esconder a track bônus, mas isso funcionava mais na era dos CDs. Tive que excluí-las pra não foder minha contagem no last.fm.

65. [silence] 0/10

Essa aqui é diferente! 6 segundos de silêncio?! Uma inovação muito bem vinda que nos pega de surpresa e... Vamos logo pra track bônus.

66. Amlux (Remixed by Jack Dangers) (2nd Version) 8/10

Oras, quem diria, valeu pena esperar. (Na verdade nem esperei) Que track fascinante. Ela foge - muito - do estilo do álbum, sendo muito mais silenciosa, ambiente, tranquilona que o resto. Os sons são intrigantes, uns estalos que parecem vir de uma fogueira, mas isolados. Depois vem uma onda de chiados que seguem um ritmo incessante e quase incompreensível. Em partes essa música é até atmosférica. Estouros esporádicos de agudos fortes chegam a assustar. Me lembrou um pouco de Wolf Eyes, o que faz a track boa por definição. Visto que é um remix feito por outro artista, não devemos ficar surpresos pela mudança em estilo. De qualquer maneira, é muito bem vinda. Devo checar outros trabalhos desse Jack Dangers.

Nota final:

7/10 

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